De vizinhança nova

Mudar pra sempre e pra sempre mudar. Quais os planos da vida pra gente se não esses, não é?

E depois de mudar de cidade eu mudei casa. Na verdade casa não, apartamento. Passei de um cantinho no quarto da Vivianne lá na Xavier da Silveira para um quarto só pra chamar de meu na Sá Ferreira. E toda essa mudança foi um passo bem audacioso no momento em que me encontro.

Nesse meu novo quarto não bate sol, ele é virado para um vão do meu prédio e para o do prédio vizinho. Às vezes o acho um pouco escuro e triste, mas, meu lado Pollyana de ver a vida, faz com que eu acredite que no verão do Rio, não bater sol seja uma grande vantagem.

Não mudei de bairro, continuo em Copacabana, mas a vizinhança é bem diferente de uma rua para a outra. Na Xavier a maior parte dos vizinhos eram prédio bonitos, uma loja das havaianas, um restaurante japa, um restaurante très chic francês que vivia cheio de gente a semana toda, uma academia que devia ser bem cara e outras coisas.

Agora na Sá Ferreira eu tenho como vizinhos o Estilos Bar que, ao que me parece, funciona 24 horas e você encontra cerveja muito gelada por 5 reais e um ótimo frango à passarinho, os chineses da esquina que vendem uma sacola de gelo gigante por 2 reais quando é caso de vida ou morte você precisar para gelar uma caipirinha, além dos bons pastéis de vários sabores, inclusive de “FLANGO” que lá tem (diz a lenda que quando uma das milhares de pombas de Copacabana pousam na estufa dos salgados a chinesa as espanta com um sonoro “XÔ flango! XÔ flango!).

Meus vizinhos da frente são os moradores do pavão pavãozinho e meu prédio fica exatamente na entrada do morro, no qual eu até já me inscrevi para ser voluntário num projeto com crianças que acontece lá.

Cá entre nós, eu prefiro a Sá Ferreira, ela é mais movimentada, mais animada e tem mais cara do Rio de Janeiro.

Já os vizinhos do prédio, posso destacar como o mais peculiar, um senhor que vive no apê de cima do nosso e, para minha sorte, o quarto dele é em cima do meu.

Acontece que esse senhor é mais um integrante do grupo dos fora da casinha,  grupo este que tem presença massiva aqui no Rio

Ele dorme durante o dia todo e acorda na madrugada, quando eu estou indo dormir. Até aí não teria problema nenhum se:

– ele não escutasse TV no volume 50;

– o quarto dele também não fosse virado para o vão do prédio e ecoasse por todos os andares;

– ele não falasse a mesma coisa 10 vezes na mesma altura da TV, sozinho – e sem hipérbole alguma nessa afirmação;

– ele não discutisse problemas públicos como o preço dos pedágios, polícia do Rio de Janeiro e a insatisfação do serviço dos porteiros hoje em dia ao mesmo tempo em que assiste a um filme impróprio para menores e os gemidos da(s) protagonista(s) se propagam pelo prédio todo; (ohhh Yes!! Yesssss – Por que os pedágios estão uma fortuna para termos essas estradas em péssimas condições – oh my gooood, yesssssss – estão em péssimas condições – ahhhhhhhh don’t stop – péssimas condições essas estradas para esse roubo de pedágio – no no nooooo, Yes, Yes , yesssssssss)

– ele não ficasse até a manhã do outro dia nesse incessante diálogo consigo mesmo e indiferente a esse gênero de filme que… deixa pra lá.

Apesar disso tudo, eu passei da fase de ira para o sentimento de pena (nem sempre) depois de imaginarmos que ele é uma pessoa sozinha e com problemas, assim como deve ter acontecido com os outros moradores, os quais devem ter se habituado, pois eu nunca os escuto reclamar.

Espero ainda ter o prazer de conhecer mais vizinhos do prédio, da rua, do bairro e da cidade.

Apesar de todas as dificuldades eu sinto, depois de muito tempo, que talvez eu precise perder a aposta com a Tati e comprar uma cama box (apesar de desconfiar que ela já perdeu) mesmo que isso signifique se fixar por mais tempo em um lugar (apesar de que eu e a Vivianne provamos que é possível por uma box nas costas e sair por aí quando precisar) e sinto me feliz em ter uma vizinhança.

Ah! Esqueci do cachorro que late igual a um pato. É difícil imaginar, mas, ele late igual a um pato, para o meu azar.

Postado por Fernando Bonfim. Chato, curioso e inconstante.

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4 respostas para De vizinhança nova

  1. Senti uma grande vontade de conhecer a tua vizinhança e seu dia a dia companheiro, mas, claro, o cachorro com latido estilo pato será o primeiro vizinho que vou querer conhecer (:

    Grande abraço.

  2. Tatiana disse:

    Fer, sinto, mas você irá perder a aposta. Ainda não comprei minha box.
    Chorei de rir com o texto, o vizinho que fala sozinho é o melhor!
    Beijos e saudade. Muita sorte pra você, queridão

  3. Samara Reis disse:

    Saudades….e boa sorte com a vizinhança…

  4. Lis Sayuri disse:

    Xô flango, xô!hahaha
    Nossa, li, olhei pro lado e pensei em como é saudável trocar de vizinhança. Espero que a gente ainda troque umas mil vezes.

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